segunda-feira, 6 de julho de 2009

Velemos por Michael! Velemos por nós!





Por: Djnaldo Galindo

Definitivamente, mede-se o nível de valores e de sofisticação de uma determinada sociedade, quando se observa a biografia de seus líderes e heróis e ícones - termo mais usado no mundo da arte pop. Há mais de uma semana, somos bombardeados por uma cobertura irrestrita da mídia sobre repentino desaparecimento do cantor pop star Michael Jackson. Não é de hoje sabermos que a morte dos ditos famosos sempre teve e terá um nível de repercussão que, mais para atender aos interesses comerciais da mídia, muito maior do que a grandeza e importância do morto, foi, e será também parte de um grande negócio. No caso específico do Sr. Jackson, beira as raias do absurdo. Independentemente de nossa aprovação ou não, quase choramos ao ouvir a canção “Ben” executada exaustivamente junto as imagens do cantor ainda criança á época do Jackons 5. Impossível não se incomodar com esse estado de coisas, principalmente quando chegam-nos as notícias, pela mesma mídia, dos resultados primários da dissecação do cadáver. O morto, ao contrário da vasta cabeleira das fotos e aparições públicas, era careca. Embora negasse a maioria em vida, tinha treze marcas evidentes de cirurgias estéticas, algumas costelas quebradas e finalmente, exceto muitos “medicamentos analgésicos”, não se encontrou nada no seu estomago. Fujamos a estas duas atitudes! É muito fácil e cômodo á aqueles que apenas vêm os fatos de maneira superficial ter duas atitudes distintas diante do acontecimento: uma maioria corre as lojas de discos, leva flores ao Rancho Never Land, derramam-se em lágrimas até que a mídia esqueça ou então que surja outra morte famosa, e opostamente a esse grupo (talvez também este que escreve), há uma minoria que rosna, lamenta e range os dentes, criticando a mídia, o populhacho e o próprio morto pela repercussão, no entender deles, desproporcional e injusta, seja pela vida indigna de exemplo do morto, seja pelos grandes problemas da humanidade, donde a mídia é quase sempre ausente e omissa. Saiamos da superfície! Deixemos Michael descansar em paz! Não fomos nós que criamos o Jackson? “Um homem que não aceita sua própria cor”! Será que não sabemos como se tratam os pretos? “Pra que tantas cirurgias plásticas?” Por que uma vida nababesca? Talvez critiquemos tanto o Michael porque ele tenha colocado em prática de uma maneira exagerada e pública todos os valores da sociedade de sua época. Michael foi vítima de uma sociedade que discrimina os negros e pobres e não suporta sua própria realidade, que é extremamente insatisfeita com a própria imagem. Que tem problemas de insônia, que é consumista inveterada e que usa a droga que sua renda lhe permite ou conveniência dá acesso. A questão é que Michael não teve limites porque também tinha um poder de aquisição sem limites. A ascensão da figura como astro mundial e de que maneira suas excentricidades fizeram que sua fama só aumentasse, não foi criada nem por ele e nem mesmo pela mídia. Será que não fomos nós aquele demônio que num belo dia levamos o menino Michael ao edifício mais alto e lhe perguntamos: “Olha menino! Tudo isso será teu se nos adorardes e nos imitardes”? Não fomos nós que criamos e destruímos o Michael, que lucramos com sua infância, sua existência e agora bebemos a sua morte? Pensemos um pouco enquanto velamos por Michael ou será que também que não temos que velar por nós mesmos?

11 comentários:

  1. Parei. Chorei. Lembrei e doeu, doeu o carinho que nao dei,e, que nao levei. que mporta o outro ,quando eu ja estou só?/

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  2. Sinceramente? Quando aqui entrei e vi que seu texto era sobre Michael... Disse logo: "Não vou ler! Depois eu volto..."

    Fechei e saí... Mas aí o bichinho ficou roendo cá dentro: "mas é um texto do Djnaldo..."

    Voltei, li e novamente vou sair, agora calada... com um nó enorme a travar minha respiração, sem poder ainda comentar...

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  3. Olá, Emanuella!
    O texto, como quase tudo que escrevo, foi mal escrito, mas, mantém o teor provocativo. Espero que assim que puderes, possas contribuir com o objetivo, que é o de gerar debates e questionamentos.
    Agradeço a atenção.

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  4. Como foi bom ler o teu texto, ele foge da superficialidade da mídia, dos sentimentos piegas expressos por muitos. O texto nos chama a refletir sobre questões que vão muito além do caso Jackson; a nossa participação na construção dos nossos ídolos. Eles são colocados, por nós, em pedestais, os convencemos que são os melhores no que fazem, que são os donos do mundo, que são o máximo ..... e depois de tudo queremos exigir sanidade dos pobres mortais, mas como ser humano se nós os elegemos nossos Deuses? e os deuses podem tudo e ainda são imortais.

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  5. Concordo com você! A grande questão a ser objeto de reflexão por nós é justamente onde e em que momento na história da sociedade humana nos desvirtuamos de admirar o que julgamos ser belo e passamos a admirar aquilo que ao nosso ver seja gerador do belo e apartir disso,projetarmos a nossa própria imagem num ídolo que pensamos ser o nosso ideal de sucesso e beleza, ocorre que o suposto ídolo também é influenciado por todas estas questões, ou seja, é um caminho de mão dupla, que se interpõe e se interpenetra.

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  6. Parabéns pelo texto.
    Posso dizer que me enquadro no segundo grupo,
    o dos que " rosna, lamenta e range os dentes".
    Acho doentio o interesse desmedido da sociedade pelas ditas celebridades e suas existências "glamourosas" e comezinhas.
    Um abraço.

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  7. Obrigado pelo comentário!
    O texto é bem mais provocativo que qualitativo. Também encontro-me no grupo que " rosna, lamenta e range os dentes", mas, semelhantemente não posso deixar que observar que o" glamour" de certas celebridades não foi criado e nem sempre é mantido por elas. Queria compreender o que determina a crescente atenção da maioria das pessoas por esse estilo de vida das celebridades, sangue de que se alimenta a mídia. O que achas disso?

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  8. Ainda pasmo e surpreso por nao ter o que dizer diante do seu texto. O medo de me repetir, de apenas dizer em outras palavras tudo o que já foi dito. Resta-me ceder, calar, e concordar que os dedos apontadores e críticos que hoje ou endeuzão ou condenam a figura tosca e grotesca desse ídolo, é somente a extensão do protótipo mental e comportamental dos mesmo que o criaram. Sem mais palavras... Vamos rangir os dentes, espernear o corpo e sacolejar a mente e torcer que outros vejam, como voce, para alem dos limites dos comentários repetitivos nas esquinas, e, da telinha enfadonha que cria e explora esatas "entidades" (de consumo) e depois as descarta ao mesmo esquecimento ou anonimato de antes. Parabéns.

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  9. Essa é uma questão bem difícil. Alguém já teorizou que vivemos sob a égide da "sociedade do espetáculo", em que se privilegia a forma em detrimento do conteúdo, e onde o principal critério de sucesso é a imagem, o grau de exposição, o 'aparecer' se sobrepujando ao ser e inclusive ao ter.
    Nestas condições um ídolo do porte de um Michael Jackson se torna o paradigma do sucesso e da vida ideal. Não me surpreende então todo esse alvoroço.
    A grande maioria das pessoas, padecendo de uma existência vazia e insípida, projeta seus sonhos e desejos ( muitas vezes irrealistas e ingênuos) na vida destas figuras icônicas, obviamente estimuladas pela indústria cultural.
    Li um texto interessante que discorre sobre o mesmo tema, com um enfoque bem diferente e original. Não concordo muito com o autor, mas acho que vale a pena ser lido, para enriquecer o debate. Deixo o link:
    http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/helioschwartsman/ult510u592447.shtml

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  10. Dj,concordo com sua visão sobre o "caso Jackson". Me parece cruel demais e até de um certo sadismo, os ditos fãs de um artista, qualquer que seja, serem tão invasivos em sua vida particular. Quando o profissional artista, quer da música ou das artes cênicas, alcançam um elevado padrão de seu trabalho, a mídia se torna um verdadeiro parasita , invadindo a privacidade desta pessoa de maneira vil....claro que a platéia aplaude a cada nova descoberta e flash dos paparazzi, esvaziando as prateleiras das bancas de revistas....Parece que se cria um ambiente de completa loucura, um ciclo vicioso que envolve tanto o artista, a grande vítima, e todo o público que se delicia com cada nova "bomba" descoberta pela mídia vampiresca. Claro que, como todo vício, um dia a coisa sai de controle. O artista-alvo se enche de ser tão bisbilhotado e passa a se esconder desesperadamente dos paparazzi...o clima não é mais de glamour. Só que a platéia já se sente no direito de saber tudo nos mínimos detalhes, sobre a vida do coitado. O que era uma profissão, torna-se um calvário....Não podemos pensar que se escolhe essa vida tão tumultuada e sem privacidade....Quantos artistas famosos e bons profissionais (é importante lembrar desse detalhe!)morreram ao se entupir de remédios , drogas e álcool? Talvez por não saberem lidar com a fama que causa uma devassa em suas vidas íntimas? Marilyn Monroe, Elvis Presley, Jhon Lenon, Raul Seixas, Maysa, etc....quanto o sucesso influenciou suas vidas a ponto de levá-los à morte tão precocemente? Teriam morrido da mesma maneira , não sendo famosos?Michael Jackson foi mais uma vítima dessa teia que a combinação sucesso-exposição à mídia cria. Pensemos nele como um artista inovador, criativo, de alto nível artístico. Quanto à vida privada, isso era problema dele.Ou devia ter sido...só dele.

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  11. Você toca num ponto que o centro da minha idéia. Vejo a maioria dos ditos sabios e independentes serem muito rigorosos com a dita personalidade famosa ou mesmo com o público que se alimenta e alimenta a mídia e a própria mídia. Não percebem, talvez por acomodação intelectual que o objeto de debate, ou seja, o ponto neuvrágico é bem mais complexo e profundo. A excessão da referencia de Tarcísio a respeito da obra " A sociedade do espetáculo" não lí e não ví em toda onda de estudo da vida e da obra de Michael Jackson nenhum comentário que tentasse fugir da postura fácil, do comentário comum e julgamento premeditado. Colocas muito bem, quando dizes que a fama que a priori fascina o famosos, vem logo a se tornar um caro preço pela fama conseguida.
    Muito bom!

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