sexta-feira, 17 de julho de 2009

Texto do Galeano

Olá, amigos. Já que vamos hoje discutir o livro do Galeano, vou aqui reproduzir um texto do autor, extraído do site da Agência carta maior, para entrarmos no clima.

Eduardo Galeano: a linguagem, as coisas e seus nomes

Na era vitoriana era proibido fazer menção às calças na presença de uma senhorita.

Hoje em dia, não fica bem dizer certas coisas perante a opinião pública:O capitalismo exibe o nome artístico de economia de mercado;

O imperialismo se chama globalização;As vítimas do imperialismo se chamam países em via de desenvolvimento, que é como chamar de meninos aos anões;

O oportunismo se chama pragmatismo;A traição se chama realismo;Os pobres se chamam carentes, ou carenciados, ou pessoas de escassos recursos;

A expulsão dos meninos pobres do sistema educativo é conhecida pelo nome de deserção escolar;

O direito do patrão de despedir sem indenização nem explicação se chama flexibilização laboral;

A linguagem oficial reconhece os direitos das mulheres entre os direitos das minorias, como se a metade masculina da humanidade fosse a maioria;em lugar de ditadura militar, se diz processo.

As torturas são chamadas de constrangimentos ilegais ou também pressões físicas e psicológicas;

Quando os ladrões são de boa família, não são ladrões, são cleoptomaníacos;

O saque dos fundos públicos pelos políticos corruptos atende ao nome de enriquecimento ilícito

;Chamam-se acidentes os crimes cometidos pelos motoristas de automóveis;Em vez de cego, se diz deficiente visual;

Um negro é um homem de cor;

Onde se diz longa e penosa enfermidade, deve-se ler câncer ou AIDS;

Mal súbito significa infarto;

Nunca se diz morte, mas desaparecimento físico;

Tampouco são mortos os seres humanos aniquilados nas operações militares: os mortos em batalha são baixas e os civis, que nada têm a ver com o peixe e sempre pagam o pato, danos colaterais;E

m 1995, quando das explosões nucleares da França no Pacífico Sul, o embaixador francês na Nova Zelândia declarou: “Não gosto da palavra bomba. Não são bombas. São artefatos que explodem”;

Chama-se Conviver alguns dos bandos assassinos da Colômbia, que agem sob proteção militar;

Dignidade era o nome de um dos campos de concentração da ditadura chilena e Liberdade o maior presídio da ditadura uruguaia;

Chama-se Paz e Justiça o grupo militar que, em 1997, matou pelas costas quarenta e cinco camponeses, quase todos mulheres e crianças, que rezavam numa igreja do povoado de Acteal, em Chiapas.

(Do livro De pernas pro ar, editora L&PM)

2 comentários:

  1. Olá, amigo!
    Infelizmente com a avanço da neuroliguística, fortemente influenciada pela riqueza do idioma camônico, o eufemismo foi englobado pela lógica do stabilishment e só nos resta esperar que olhos mais preparados e atentos, a semelhança dos teus, nos salvem da nossa soberana vocação a caminho das nuvens escuras e tempestuosas.
    Diganos mais!

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  2. É isso aí, amigo!
    Busquemos todos fugir das mistificações que nos são impostas!
    Abraço.

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