sexta-feira, 24 de julho de 2009

O HOMEM EXPLORA O HOMEM, E POR VEZES É O CONTRÁRIO - Woody Allen -

Por: J. Farias


Deixemos aos filósofos dogmáticos a árdua tarefa de velar verdades, e aos historiadores a liberdade poética de contar os fatos. A nós, livres pensadores resta-nos dissecar filosofia e história, na tentativa de encontrar as verdades nos fatos.
Recentemente, em um de nossos prazerosos encontros do Grupo de Leitura (Clube do Livro), onde a proposta era (e foi) discutir a obra e o pensamento de Eduardo Galeano em “As Veias Abertas da América Latina”, inevitavelmente a discussão tomou em dado momento o aspecto de preocupação social e, como cidadão inserido nesse contexto, valho-me do direito de expressão para provocar uma discussão menos ideológica e discursiva, e mais direta e objetiva, galgada nos fatos e na experiência, na intenção de que uma luz de inteligência e conhecimento adentre os porões escuros de minha ignorância.
A exploração do homem pelo homem já rendeu e vendeu muitos livros e, a própria palavra “exploração” carrega em si mesma uma conotação pejorativa, negativa e de repúdio. Sim claro, nosso instinto natural de liberdade rebate de pronto a palavra e seu significado mais próximo e próprio. No entanto desde os primeiros registros da história da humanidade as relações sempre foram nesse nível, em maior ou menor grau. Descobrir – Conquistar – Dominar - Explorar. Foram sempre as metas das “civilizações” mais “avançadas”. As ditas civilizações menos evoluídas ou pelo menos com menor poder bélico ou de argumentação se viam obrigadas ou catequizadas as vontades da primeira. O velho conhecido instinto de sobrevivência, agora aguçado pelo sentido humano e ciente da necessidade das relações mútuas, empana e dribla com agilidade e sutileza de palavras o que desde os primórdios dos tempos e das relações humanas o homem faz com o outro homem: explorar. Claro que podemos ir além do Aurélio e dar uma nova interpretação e leitura, descobrir e inventar um sinônimo mais agradável e menos agressivo, encontrar alternativas dialéticas para dourar a pílula, mas a realidade pesa mais que toda a nobreza ideológica e o que vemos nos nossos dias não são muito diferentes do que se via no passado, apenas recebeu o requinte do pensamento moderno e das palavras ilusórias. Quanto vale mesmo o conhecimento e o preparo do meu filho na escola? Os cuidados de uma babá? Os tratos de uma enfermeira para com meu velho pai? De quanto (financeiramente) falamos quando nos referimos aos nossos funcionários? Meu carro, minha casa, minha roupa, minha educação, minha alimentação, minha dormida... Tudo é fruto da exploração do homem pelo homem. Se não direta, indiretamente, somos sempre beneficiados por esta exploração. Podemos apelar para a retórica do legal (a lei da procura e da oferta. Os valores de mercado... É o que a Lei determina... etc.). Mas, moralmente, isso justifica os baixos salários - às vezes menos, ou metade do mínimo - em relação à carga horária exercida e os benefícios que essa mão de obra nos traz? A palavra “remuneração” parece de longe substituir a tão temida e negada palavra “exploração”. Trabalha, e trabalhará sempre aquele que precisa, e este sempre estará em desvantagem àquele que o paga, independente de como se conduz essa relação patrão-empregado. Sempre houve, e tudo leva a crer que sempre haverá os que comandam e os que são comandados.
Cabe, entendo eu, a pergunta; Não é essa exploração a responsável direta da evolução humana? Sem ela não estaríamos todos acendendo fogo pela fricção de gravetos?
Resta-nos descobrir formas mais dignas e humanas de se conduzir estas relações, pois o discurso simplista de igualdade é puramente ideológico.

6 comentários:

  1. Amigo Farias!
    Gostaria muito, dizer que seu texto é equivocado, mas com tristeza e resignação sou obrigado a concordar genuinamente com ele. Mesmo no curto período da história do homem, onde se extinguiu ou tentou-se extinguir a exploração de que falas, não se teve exito, ao contrário,essa exploração que no modelo capitalista é explicito, tornou-se mascarada e ainda mais víl, na medida que se apoiava ideologicamente no suposto argumento de " moral superior","justiça social", quando fechou de maneira brutal qualquer possibilidade de escape. A história do homem é a história da exploração! Sem ela, não existe humanidade, crer em sua eliminação é possuir a crença débil, muito próxima as crenças de natureza religiosa. O má(r)ximo que podemos, e isso apenas individualmente, é idealizarmos um mundo particular ( na nossa casa por exemplo), donde seja possivel sermos ao mesmo tempo exploradores e explorados, só aí apenas.

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  2. Caro Djnaldo, receber seu comentário de forma positiva e compreenssiva em relação ao exposto por mim é no mínimo lisongeiro, tedendo o conhecimento social, histórico e político que detens, só posso achar que não sou o único que ver para alem da fronteira da ideologia. Gostaríamos é claro que fosse diferente, mas a palávra explorar é forte e tudo se alimenta dela. A mídia explora o caso mais grotesco, a religião explora a fé "as vezes ingênua" dos fiés, a política explora o eleitor ignorante, os amantes se exploram mutuamente, os patrões os empregados, os "coitadinhos de mim" exploram os "benevolentes"... Enfim, exploramos o planeta, as espécies e nossa própria raça. Mas, mesmo a feiura da palavra explorar tem (como tudo) seu outro lado, a dualidade das coisas e dos fatos, o que nos propicia enxergar um colorido e uma aura de nobresa na exploração, é o fato de que também exploramos a música, as artes, a literatura, o conhecimento, etc... Se nos envergonhamos da palavra mas temos ciência do seu alcance, troquemos então EXPLORAR, por; TROCA DE INTERESSES. Assim, creio eu, teremos uma maior porcentagem de aceitação.

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  3. Amigo Farias!
    Apesar de reconhercermos ser a exploração e a sociedade moderna algo inexoravel, para efeito de justiça,não devemos deixar de lembrar que alguns, mesmo sabendo ser inglória e perdida a luta, tentaram de maneira bela, muitas vezes com a própria vida, denunciar essa exploração, entender suas causas e origens. São frutos dessa luta,alguns pequenos avanços em algumas sociedades, donde a mão pesada da exploração tornou-se mais leve com os seus patrícios, em detrimento da mão mais pesada sobre os lombos de outros povos, ditos assim, menos alertas ao julgo do explorador. Acrescentas bem quando amplias a denuncia da exploração além da economia, pois, ela também existe nas diferenças de gênero, idade.

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  4. Olá, amigos!

    Minhas escusas pela demora em participar do debate. O tempo anda curto.
    Em relação ao teor do que está sendo debatido tenho algumas considerações a fazer:

    Iniciamente acho que deveríamos explorar melhor o conceito de ideologia. Para além do conceito de um mero corpo teórico (dogmático) a serviço de movimentos políticos e correntes de pensamento de diversos matizes, o vocábulo na verdade está investido de um significado mais amplo, indicando o sistema de representações e de valores da coletividade, a forma como percebemos e interpretamos o mundo, contruida desde o berço, através de um processo de introjeções nas interações com as pessoas e instituições sociais ( família, escola, igreja, etc.), formando continuamente nosso arcabouço intelectual, nossa visão de mundo, processo esse no qual sofremos decisiva influência dos interesses dominantes, objetivando a manutenção das estruturas basilares do sistema.
    Uma das formas mais eficazes de atuação da ideologia hegemônica é justamente conferir à realidade um caráter a-histórico e cristalizado, permutando História por Natureza, através do conhecido discurso fatalista.

    Baseando-me nessa linha argumentativa, penso que por mais que seja evidente que a lógica da exploração pauta as relações humanas, ao menos desde as origens do patriarcado, não posso concordar com a ideia de que se trata de uma essência imutável que definiria a sociabilidade humana.
    Correndo o risco de parecer excessivamente otimista, creio tratar-se tão-somente de um traço constitutivo da sociedade capitalista e das formações sócio-históricas que o antecederam, fundadas na propriedade privada e na acumulação de riquezas através da exploração do trabalho humano.

    Postular a exploração do semelhante e o individualismo como essências de uma suposta natureza humana eterna e imutável é, em minha opinião, um forma de conceber a realidade que está a serviço do ordenamento vigente, ao eliminar o pensamento dialético, suprimindo o potencial e a dimensão transformadora da humanidade e da História.

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  5. Assim como gostaria de discordar do texto de Farias,queria muitissimo concordar com comentario de Tarcisio. Sua esperança toca-me profundamente, principalmente quando se apresenta apoiada em argumentos sólidos, mas que não seduzem por ausencia de exemplos práticos. Oxalá o que ocorreu na ex União Soviética, Leste Europeu, Cuba, China...a exploração antes privada, agora estatizada, com a desvantagem de que as vítimas já não podiam mais espernear. Talvez seja forçado a perceber que o mundo necessite mais de Tarcísios que de Djnaldos, só assim, poderemos fugir de uma visão determinista da exploração, se não dos modos e meios de exploração,ao menos de seus métodos e discursos, principalmente, o discurso competente, um poderoso instrumento de convencimento e mascaramento do espólio universal.

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  6. Diante do comentário do amigo Tarcísio, retrocedo a uma posição menos fatalista e mais reflexiva. Talvez a impressão de imutabilidade no meu texto deva-se a carga pessimista e de negatividade que a experiência pela observação dos fatos e da historia tenha me conferido. No entanto devo ceder ao argumento do amigo no que diz respeito a capacidade de superação, adaptação e mudança, da Natureza Humana. Devo admitir sim a capacidade reformadora e transformadora do homem, mas, devo também concordar com o pensamento "Djnaldiano" de que algumas dessas mudanças e transformações foram apenas mudanças, não objetivando melhoria da antiga condição. Mas, são passos, são avanços, são mudanças, e se muda, corre de fato o risco de numa dessas, ser para melhor. Invejo os otimistas, e as pessoas que com Humanidade pensam em um futuro melhor para a humanidade. Uma transformação a longo praso parece não afetar o pensamento pessimista, pois, parece que estes (e devo ser um deles)são tomados de um egoísmo extremado, onde, se a melhoria da condição humana atravez de sua capacidade de transformação não o (os) alcança ou afeta, estas não são consideradas. Realmente Djnaldo tem razão, o mundo precisa mais do "Pensamento Tarcisiano".
    J.Farias

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